Publicado em

Blogs de viagem: como evitar clichês e escrever melhor

BY: ABBV46 COMMENTS CATEGORY: Criação de conteúdo

 

Por Sílvia Oliveira

Não sou especialista em nada. Nunca consegui memorizar as regras do hífen. Tenho enorme dificuldade com crase e, de vez em quando, até derrapo em uma ou outra regrinha ortográfica. O debate aqui é mais amplo. Estamos falando da banalização ou do uso exagerado de certos termos nos textos de quem escreve sobre viagem.

Entendo que existem lugares tão improváveis e difíceis de apresentar que só nos resta  chamar alguns destinos de “surreal”. O detalhe é que você não foi o único a pensar neste adjetivo e o mundo passou a ser “surreal” do Atacama ao riozinho que passa no fundo da minha casa.

Se você já postou sobre Foz do Iguaçu não deve ter resistido ao “maior espetáculo da natureza”. Já de cima da Torre Eiffel ou de qualquer barranco com mais de um metro de altura todo mundo tem “uma vista de tirar o fôlego”.

Ao abrir um blog, seja lá sobre qual tema for, você deve saber que redigir é um exercício complexo. Demanda tempo, conhecimento gramatical, cultura geral e, principalmente, bom senso. Colocar adsense e dar Ctrl C + Ctrl V não é bem o trabalho do blogueiro que pretende se profissionalizar.

Muitos recorrem às frases prontas porque o clichê é um ser de natureza fácil. Bonitinho, mas ordinário como diriam os adeptos dos trocadilhos infames. O clichê parece um raio de inspiração divina. É só fechar os olhos que o “de comer de joelhos” aparece na tela do seu computador. Já percebeu que não existe mais comida ruim neste mundo, tudo agora é “de comer de joelhos”? Pastel, tapioca, buchada de bode, pudim, jiló...

Sem contar o “ótima pedida”. Descer rio em cima de boia é sempre “uma ótima pedida”. Pra quem?  pergunto.  Eu ainda prefiro o singelo “legal” ou o tradicional “bacana” para dizer que a sugestão vale a pena. Na verdade o terror já começa no perfil do blogueiro: “viajante apaixonado e psicólogo nas horas vagas” ou “viajante apaixonada e professora nas horas vagas” ou “viajante apaixonado e engenheiro nas horas vagas”. Em resumo, todo mundo vive na estrada e só trabalha de vez em quando.

E quando a gente resolve abraçar alguns títulos cafonas e passa a chamar Roma de “Cidade Eterna” e Curitiba de “Capital Ecológica”? Já reparou que todo Mercado Municipal tem uma enorme diversidade de “cores, aromas e sabores”? Aliás, deste último já fui partidária durante muito tempo.

O “despir-se de preconceitos” sempre aparece naquele passeio antropológico que você, na verdade, odiou – mas não tem coragem de dizer. E, portanto, acaba se agarrando ao clichê mais brega de todos os tempos.

3 dicas básicas para melhorar seu texto

Escreva como se você estivesse conversando

Não me parece provável que você responda: “nossa, um espetáculo da natureza”, quando alguém pergunta o que achou sobre aquele destino. É bem razoável que saia um “maravilhoso”, “inesquecível”, “sensacional”: são adjetivos mais honestos, pessoais e cotidianos.

Comece pelo mais importante, não pelo óbvio

Abrir seu texto sobre Ouro Preto dizendo “Fundada no século 18, a antiga Vila Rica...” — pronto, perdeu o leitor. Experimente fazer o primeiro parágrafo do seu post com alguma experiência, opinião ou impressão particular. Dados históricos e geográficos são importantes, mas amolam menos se forem encaixados lá pelo meio do artigo.

Equilibre o tamanho do seu post

Se sua história é muito comprida seria mais interessante dividir o texto em alguns capítulos ou série. Quanto mais longo for o artigo, mais confuso, cansativo —  e cheio de clichês — ele corre o risco de ficar.

O discurso do blogueiro ganhou espaço porque se trata de uma conversa ao pé do ouvido, é o leitor conversando diretamente com o dono do negócio — sem atravessadores. Faça valer seu posto-patrão e cuide do seu blog como se ele fosse sua empresa.

Imagem: JeShoots

Publicado em Criação de conteúdo Tags , ,

48 COMMENTS

Eduardo Neves - posted on 11/09/2017 18:52
Reply

Silvia,texto top! Ops… top é clichê. Hehehe!
Dicas preciosas para quem, como eu, está começando um blog.
Grato!

Edu Oliveira - posted on 02/06/2014 10:46
Reply

Oi Sílvia,
Fantástico esse seu texto.
Nossa, caio direto nesses clichês, vou me policiar mais.
Há poucas semanas, li um que tratava do mesmo assunto no El País, acho que um complementa o outro.
Segue o link, olha que legal! – http://blogs.elpais.com/viajero-astuto/2014/05/topicos-viajeros.html
Abraços a todos os viajantes desse mundão! 😉

gisele teixeira - posted on 02/06/2014 09:48
Reply

Nem falar de Buenos Aires, que é “a Paris da América Latina”.

Orlando Henriques - posted on 02/06/2014 04:17
Reply

Direto ao ponto, Silvia! O clichê é a fórmula mágica da esmagadora maioria da Humanidade. Se eu fosse desabafar aqui e antes dos clichês, começaria por dizer que me sinto esmagado pelos “à”s. Todo o mundo vai à Brasília, à São Paulo, à Roma, à Paris, e eu aqui, rrrrangendo os dentes.

Em minhas mais recentes visitas ao Brasil (já faz um ano), subia as paredes quando ouvia “diferenciado”. Prometi não voltar enquanto estiverem usando o termo para tudo e qualquer coisa. Parece que mudou; agora é “surreal”. Não querem que eu volte…

Entretanto, faço um paralelo com gerações anteriores, que insistiam em conservar certos costumes aos quais nós, geração seguinte, resistíamos. No Brasil de décadas atrás, as classes mais afortunadas economicamente achavam que escrever relativamente bem era prerrogativa delas, com algumas exceções. A desigualdade continua, ainda que um pouquinho menos do que há 50 anos. No entanto, observo que aqueles que antes se colocavam nos píncaros do conhecimento não só escrevem de maneira sofrível, mas também ficaram de fora nessa brutal transição por que passamos, desde os anos 90.

Não sei onde irá parar o “escrever bem”. Naturalmente, sentirei falta se continuar a tendência, mas conheço vários blogs muito bem escritos, sobretudo aqueles mais pessoais. Digo mais: os blogs são muito melhores do que as revistas e jornais impressos.

A linguagem passa por transformações. Nossos avós não escreveriam como nós, nem expressariam o que hoje fazemos, sem cerimônia e em público. Torço pela sua depuração e por um esforço permanente em aperfeiçoar o melhor recurso de que dispomos para distinguir-nos.

Enquanto isso, meus dentes sofrerão a cada vez que me depare com “à”s fora de lugar, diferenciados e surreais.

debora - posted on 20/08/2013 23:18
Reply

Excelente post! Muito bom!

Rafael Kosoniscs - posted on 20/08/2013 12:27
Reply

Silvia, obrigado pelas dicas. Ainda estou engatinhando neste mundo e esses toques vão ajudar demais. Obrigadooo! Um abraço

Sueli schmitt - posted on 30/06/2012 10:44
Reply

Ola Silvia, adorei as dicas, concordo plenamente. Eu vajo muito e adoro escrever, a coisa mais dificil do mundo é quando peço para alguém me ajudar com algum artigo e vejo frases que não significam muito ou que não descrevem de verdade o que o leitor ira ver caso va até o local indicado. Abraços

Daniel Martinon - posted on 18/06/2012 14:07
Reply

Oi Silvia, eu tinha certeza que você não sabia que eu te acompanho desde o Matraqueando, pois é, a internet nos manteve em contato.Obrigado pelas dicas, sou estreante como editor de blog e ainda mais quando o assunto é gastronomia, mas faço o possível.Beijo enorme!

Daniel

Sílvia Oliveira - posted on 18/06/2012 23:16

Danieeeel! Você por aqui! Meu fotógrafo de infância! hahaha! Saudades de você! Entrei no seu blog, está lindo. Parabéns! Abs! 🙂

Ana Laura - posted on 05/06/2012 15:28
Reply

Outro clichê que abomino é comparar um destino com outro, ex: Bonito é o Caribe Brasileiro.
Pelo amor, cada destino é um.
Abraços e obrigada pelo post.
Ana Laura

Sílvia Oliveira - posted on 05/06/2012 18:11

Vixe, acho que já cometi muitas vezes esse pecado, Ana Laura! 🙂

Lili-CE - posted on 06/06/2012 14:26

Hahaha! Eu adoro comparar um destino com outro, às vezes fazendo troça. Sempre digo um absurdo ao meu marido pra gente rir um pouco durante as viagens… Na primeira vez que estive em BUE, comparei a Rua Florida com a Rua Guilherme Rocha, uma “peatonal” do centro daqui de Fortaleza de-to-na-da. #ohwait

Paula* - posted on 01/06/2012 17:52
Reply

Um perigo esses clichês!
Eu confesso, com tantos adolescentes a minha volta, fico caindo nessa armadilha de vez em quando… (shame on me!).
Vou aumentar a “patrulha”.
😉 Ótimo texto!

Diego / Meus Roteiros de Viagem - posted on 31/05/2012 23:56
Reply

Ufa, acho que escapei ileso em 98% das dicas! rs

Nanda Sales - posted on 31/05/2012 02:29
Reply

Amei o texto e confesso que como blogueira iniciante fico me policiando para nao cair nesse lema de clichê. Outra coisa que me preocupa é o caráter inovador, como sigo dicas do Riq Freire, você, Mari Campos e outros já consolidados, tenho medo de o texto sair apenas uma cópia, por isso deixo claro logo que segui a dica de vocês e aí sim dou minhas impressões. Texto bíblia, gente, como evitar sendo eu uma tagarela?

Em tempos, estou orgulhosíssima pela iniciativa da Associação. Abraços,

Lilian - posted on 30/05/2012 19:25
Reply

Eu tento não usar os clichês tb, até porque quando alguém procura informação num blog quer mais é “ouvir” uma opinião diferente. Então, prefiro dar as minhas impressões do que as que já estão por aí.
Parabéns pelo texto!
Lilian

P.S.: Ah, só pra ajudar: valer a pena não tem crase. A expressão usa a palavra pena no sentido de castigo, punição. Então, qd vc diz que valeu a pena quer dizer que valeu o sacrifício.

Carmen - posted on 30/05/2012 16:19
Reply

Parabéns pela abbv!

Silvia, eu acho que o seu texto é inteligentes e bem fundamentado. Você escreve tão bem (é justo dizer-lo)

Natália M Gastão - Ziga da Zuca - posted on 30/05/2012 18:13
Reply

Adorei!!! Mas tô aqui pensando nos meus clichês… Acho que de todos, o “ótima pedida“ é o que eu mais escorrego! Que feeeio! Hehehe
Vou me policiar mais e revisar meus posts já! =)
Beijinhos!

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:50

Oi, Natália! Os clichês fazem parte do inconsciente coletivo, quando muita gente começa a usar é melhor ver o que está acontecendo! Hahahaha!

Jamile - posted on 30/05/2012 13:38
Reply

Adorei!! rsrs
Eu também odeio clichês e sempre tento evitá-los, seja no meu blog, seja no meu trabalho. Meu blog é “para mães”, mas também escrevo sobre viagens com crianças.
Parabéns!!
Jamile
Mãe para Mães
http://www.maeparamaes.com

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:49

Obrigada, Jamile! 🙂

Vanessa - posted on 30/05/2012 13:05
Reply

Adorei! Vai ajudar muito, já que sou iniciante! Valeu!

Silvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:48

Bem-vinda, Vanessa!

yara xavier - posted on 30/05/2012 12:44
Reply

Boa Silvia. Como leitora, redatora e blogueira amadora, me irritam os clichês. Além dos por voc~e citados, tem um que me faz parar de ler o texto na hora: praia paradisíaca. Argh!

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:48

Hahahaha! Praia paradisíaca com águas cristalinas… é de matar! 🙂

Elaine Castro - posted on 30/05/2012 11:10
Reply

Ótimas dicas! Principalmente pra quem está começando, como eu. Obrigada.

Silvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:47

Bem-vinda, Elaine! 😀

Damares Lombardo - posted on 30/05/2012 10:11
Reply

Que dicas legais, já vou dar uma revisada nos meus posts…..rsrsrsrs. Moro na Itália há muitos anos, e por isso muitas vezes faço confusão na hora de escrever em prtuguês, porque penso muito em italiano, e o fato dos dois idiomas serem parecidos, me cria alguns problemas. Mas adoro escrever meu blog, me da uma grande satisfação, então me esforço bastante, corrijo de lá e de quá, e no final da certo, apesar de escapar qualquer errinho as vezes, mas nada de grave.
Estava na hora de existir uma associação de blogueiros brasileiros, e fico feliz que tenha sido criada por pessoas tão capacitadas.
Abraços e sucesso
Damares

Silvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:46

Obrigada, Damares! 🙂

Carmem - posted on 30/05/2012 03:49
Reply

Belas dicas, Silvia.
Pra mim a espontaneidade e o equilíbrio no tamanho do texto são fundamentais.

Silvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:45

Concordo, Carmem! texto tamanho-bíblia afugenta o leitor! Abs! 🙂

Ladyrasta - posted on 30/05/2012 01:46
Reply

(vou lá dar um’olhadinha pra ver se tenho esses cacoetes, mas acho que não tenho não, hehehe).

Esses clichès são insuportáveis. Paro de ler na hora.

Beijos

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:43

Os clichês estão na natureza humana e no discurso cotidiano, todo mundo tem que ficar de olho para não dar uma escorregada! Rá! 🙂

Joao Lucena - posted on 29/05/2012 21:17
Reply

Como aprediz de blogueiro quero te parabenizar pelo texto, em poucas palacras e muitas verdades você abriu os meus olhos para este trabalho que quero desenvolver com clareza e objetividade. Vamos Nessa!

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:42

É isso aí, João! Vamu que vamu! 🙂

Suely - posted on 29/05/2012 20:10
Reply

Silvia
Muito bom, ótimas dicas, eu sou péssima para escrever, meu negócio é pintar, gostaria muito de ter esse dom.
Bjs

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:41

Obrigada, Suely! 😀

Quenia Maia Lourenço - posted on 29/05/2012 19:52
Reply

Silvia.
Minha reação foi a mesma da Pati, ri por alguns instantes e pensei ih acho que fiz isto.
Obrigada pelas dicas.
bjs
Quenia

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:40

Oi, Quenia!
É só não ir pelo caminho mais fácil: ele quase sempre resulta num clichezão! Abs!

andré galhardo - posted on 29/05/2012 19:30
Reply

Boa. E acrescentaria: use fotos.
E comece escrevendo belas legendas para as imagens… até pq de vez em quando é só o que lemos, não? 🙂
Dica de quem não tem blog de viagem – mas é viciado em Instagram.

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:39

André!
Falávamos de texto especificamente, mas tratando do discurso como um todo foto em blog de viagem é tão ou mais importante que o texto! 🙂

André galhardo - posted on 30/05/2012 21:44

Pois é Silvia – o ponto é que boas legendas já podem ser o texto em sí. Digo… imagine que uma legenda possa ser um parágrafo, não 5 palavras! hehe

Pati Venturini - posted on 31/05/2012 01:33

Bom saber, André! Também sou IGviciada e passo isso para o meu blog… foto é fundamental, ajuda a contar a história.

Pati Venturini - posted on 29/05/2012 16:56
Reply

Sílvia!
Que ótimo artigo, grandes dicas! Em alguns momentos dei risada, mas acho que de nervosa. Vou reler meus posts para ver se não estou escorregando muito… Afinal, não é porque não ganho nada com isso que vou despejar uns textos quaisquer por aí! Obrigada!

Sílvia Oliveira - posted on 30/05/2012 18:37

Hahahaha! Pati, todo mundo que escrever sobre viagens já deve ter dado alguma derrapada, eu inclusive! A gente só tem que ficar de olho! 🙂

Pati Venturini - posted on 31/05/2012 01:35

Justamente Sílvia! Não custa cuidar um pouco enquanto escrevemos, é um bom exercício, rsrsrs!


Deixe um comentário para Edu Oliveira Cancelar resposta