Edney Souza, conhecido no mundo digital como InterNey, trabalha no mercado de tecnologia e comunicação desde 1990. Ele acompanhou de perto todas as fases do conteúdo online no Brasil, desde o início da nossa “blogosfera”.
Além de ser diretor acadêmico na Digital House e professor de Marketing Digital na ESPM, Edney é organizador da Social Media Week SP, colunista do blog WordPress.com Brasil e conselheiro da ABRADi-SP.
Convidamos InterNey para uma conversa sobre blogs de nicho, buscando insights de um profissional que conhece todos os lados do mercado de conteúdo digital.
1) No ecossistema da internet, os blogs já passaram por diversas fases. Com o crescimento acelerado das plataformas de conteúdos em vídeo, como você vê a relação das pessoas com os blogs hoje? Qual o espaço dos blogs e o que faz essa plataforma manter audiência e se viabilizar financeiramente, numa época em que só se fala de instagrammer e youtuber?
Para conteúdos mais técnicos e aprofundados, assim como para o mundo B2B, o texto continua sendo uma forma eficiente para transferir informações. Isso acontece porque, além de ser facilmente buscado, o texto permite que os olhos saltem grandes porções de conteúdo ou retomem determinado trecho facilmente.
Em vídeo é mais difícil avançar e voltar livremente. O vídeo acaba funcionando melhor para contar histórias ou para conteúdos mais básicos, estilo tutorial passo-a-passo onde raramente o espectador vai saltar etapas.
Dentro do texto, o blog acaba dividindo espaço com outras plataformas como o LinkedIn e o Medium, porém nada tem a liberdade do blog em termos de customização e integração com outras mídias.
Quanto a viabilidade financeira, eu vejo o blog como uma plataforma mais interessante para quem tem um negócio, é consultor ou atua como freelancer, cuja remuneração não venha diretamente da plataforma. Isso porque a maior parte da receita de anúncios não está mais em sites, e sim em redes sociais ou links patrocinados. O Youtube é uma exceção nessa disputa porque é a única plataforma onde o usuário pode ganhar alguma coisa mesmo sem uma marca investir diretamente – basta chegar em 10 mil assinantes e ligar a monetização dos vídeos.
2) E com relação ao mercado? Às vezes é difícil encontrar parceiros sem ter o volume de audiência dos grandes portais ou a quantidade de seguidores das webcelebridades. Como as marcas enxergam o papel dos blogs - especialmente os de nicho - dentro de suas estratégias de marketing?
Numa estratégia para marketing de influência, é interessante trabalhar com 3 tipos de influenciadores para atender todo o funil de vendas: webcelebridades para awareness, especialistas para consideração e microinfluenciadores para conversão. Os blogs de nicho podem atuar como microinfluenciadores ou como especialistas, dependendo do conteúdo e do segmento. Eles têm um papel importante na etapa da consideração. Quanto maior o ticket da venda do produto de nicho, maior o valor desse especialista para a marca.
3) Blogueiros e influenciadores sempre vivem o dilema de se dividir entre diversas atividades - produção de conteúdo, gestão dos canais, contato com parceiros, interação com seguidores, participação em eventos, mil redes sociais diferentes (cada uma exigindo formatos específicos)... Ufa! É comum que esses criadores de conteúdo experimentem burnout, FOMO e outros efeitos associados ao estresse. Como um blogueiro pode identificar o que deve ser prioridade nessa rotina?
É realmente importante os criadores de conteúdo de nicho usarem também as redes sociais. Instagram é ótimo para viagens, por exemplo, mas ninguém vai decidir uma viagem só pela foto – nesse momento, um blog associado a um perfil de Instagram com certeza vai atrair melhores resultados do que um dos dois canais sozinhos.
Mas a prioridade tem que ser aquilo que ajuda a manter sua reputação e a pagar suas contas. Enquanto você tem uma boa reputação terá gente querendo te ouvir. Vale testar novas redes sociais, estar em diversos eventos, mas se isso não paga suas contas talvez você esteja com o foco errado.
Se a sua área de conteúdo é muito competitiva, talvez você precise se especializar um pouco mais e ser ainda mais nichado. Isso vai valorizar seu conteúdo e diminuir um pouco do tempo necessário para se atualizar e ser competitivo.
Separe algumas redes para testar, alguns eventos para comparecer, mas separe também tempo para sua família e amigos.
4) A habilidade de cultivar uma comunidade em torno de seu conteúdo é um dos fatores que mais pesam na relevância de um blogueiro. Quais as recomendações para fidelizar leitores, estimular o público a se engajar e, idealmente, chegar ao ponto de se tornar um assinante/apoiador ou mesmo consumidor dos produtos que você oferece?
Criadores de conteúdo de nicho com foco em uma estratégia de remuneração direta precisam entender que é preciso ter escassez e demanda. A escassez é uma questão pois, se tem muita gente fazendo o mesmo conteúdo que você, ele tem pouco ou nenhum valor. Incremente a qualidade técnica do seu conteúdo, mas mantenha a simplicidade na linguagem.
Por outro lado, tem a demanda: se existem muitas pessoas querendo comprar os produtos ou serviços que você avalia/comenta em seu blog, isso pode ser rentável mesmo com baixo volume de leitores. Vale sempre a pena buscar mais leitores, mas se eles não estão dispostos a gastar então esses leitores tem pouco valor para a conversão.
Com relação ao engajamento da comunidade, envolva seus leitores na produção de conteúdo. Use seus comentários no blog ou em redes sociais para tirar ideias de conteúdo. Faça lives. Marque encontros nos eventos. Ouça e reaja de acordo com o que ouvir.
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Publicado em Criação de conteúdo, Mercado
2 COMMENTS
Tharsila Fernanda Costa - posted on 30/11/2018 10:30
ReplyEntrevista incrível e inspiradora! Realmente acredito que os blogs ainda tem bastante espaço no mercado. Dicas anotadas!
ABBV - posted on 30/11/2018 19:46
Obrigado, Tharsila! Ficamos felizes de saber que você gostou da entrevista! Com certeza, um espaço relevante 🙂