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Produção de conteúdo responsável para um turismo responsável

BY: Luisa Ferreira dos Santos0 COMMENTS CATEGORY: Blogueiros, Comunicação ABBV, Eventos, WTM Latin America

“A comunicação é uma ferramenta muito importante para fazer com que a causa do turismo responsável avance e se torne relevante”. Com essa fala, Cláudia Carmelo abriu o painel “Produção de conteúdo responsável para um turismo responsável” que aconteceu no Responsible Tourism Theatre da WTM - World Travel Market Latin America 2022*, em São Paulo.

Cláudia é co-fundadora e gestora de comunicação da Garupa, ONG que trabalha com marketing de causa no ativismo pelo turismo responsável. Ela moderou um bate-papo muito interessante com o publicitário e jornalista German Carmona, do The Summer Hunter, e o jornalista Daniel Nunes, colunista de turismo consciente da Rádio Nova Brasil FM, sobre a responsabilidade dos comunicadores e das marcas de produzir conteúdo confiável e promover o turismo responsável.

O auditório estava cheio, reforçando a relevância desse tema que também foi abordado pela ABBV em palestra na WTM 2019 proferida por mim e pela então presidente da associação, Natália Becattini, do blog 360 Meridianos, e em uma palestra que preparei exclusivamente para os associados no ABBV Meeting 2020, disponível na área de membros do site.

Mas o que é, afinal, turismo responsável? Gosto muito do conceito que diz que “Turismo responsável é usarmos as viagens para criarmos lugares melhores para as pessoas morarem e visitarem, nessa ordem”. E gostei também da definição que Cláudia Carmelo deu ao tema: para ela, viajar de forma responsável é tratar aquele lugar que você visita como uma casa temporária.

“Quando você vai morar num lugar novo você procura contexto, quer saber quais os problemas desse bairro... Quem está viajando também precisa buscar esse tipo de informação”, defendeu.

Comunicando com responsabilidade para todos os públicos

Como observou Daniel Nunes, hoje em dia todos nós somos comunicadores em potencial, e isso traz oportunidades e desafios. “Ao mesmo tempo em que é muito legal a democratização da informação através das novas tecnologias, a gente acabou dando voz para muita gente que não tem responsabilidade na hora de se comunicar. E quem fala para um grande público tem mais responsabilidade”, observou.

Um dos pontos levantados por Cláudia na conversa foi a importância de “furarmos as bolhas” e não nos limitarmos a “pregar para convertidos” quando abordamos temas como turismo consciente.

Na opinião de Daniel, existe um crescente interesse no tema por um público mais amplo: “Antes, parecia que falar em turismo responsável era coisa de gringo. Na rádio eu falo para pessoas de mais de 400 cidades e muitas delas dão retornos gratificantes, dizendo que nunca tinham parado para pensar sobre o assunto e agora estão refletindo”.

Na visão de German, uma forma de fazer esse assunto alcançar mais gente é compartilhar histórias em que a responsabilidade esteja presente sem precisar deixar isso claro. “Para o The Summer Hunter, ser responsável é parte do nosso dia a dia. É sobre viajar com o interesse de conhecer uma cultura local, vivê-la e sair dali sabendo que ela vai ser preservada. Acredito em trazer esses assuntos de forma natural, não impositiva, expondo formas legais de fazer turismo”, argumentou.

Exercitar a empatia e questionar narrativas prontas

Muitas vezes, a produção de conteúdo responsável passa também por dar espaço para as vozes de outras pessoas. Muitos influenciadores de viagem focam o discurso apenas suas percepções das experiências, mas nós comunicadores podemos ter um papel de intermediários ou pontes entre diferentes grupos sociais e nossa audiência, como lembrou Cláudia.

“Existe um limite no nosso trabalho. Muitas vezes quem tem que falar é quem mora no destino e as comunidades em questão, como a comunidade negra, LGBTQIA+ etc. Trabalhando com Turismo de Base Comunitária a gente vê muito a importância de que cada comunidade fale sobre si, seja dona da sua narrativa. E essa comunicação é muito mais autêntica”, defendeu.

Daniel acrescentou que quando se inclui numa história algum elemento que faça seu público pensar de forma diferente, indo além das informações práticas, o impacto tende a ser muito mais perene. “Ao falar sobre o Pantanal, podemos falar também sobre as problemáticas ambientais que o afetam”, exemplificou.

Outro ponto abordado no painel foi a importância de questionarmos as narrativas que estão sendo contadas sobre os lugares. “Isso toca muito nos governos também, porque é importante que eles revejam narrativas problemáticas ao divulgarem os destinos. Convido todos os produtores de conteúdo a prestarem atenção em qual viés queremos dar para as histórias e lembrarem que é uma responsabilidade conjunta”, reforçou German.

Por fim, Cláudia observou que o turismo pode mudar o mundo porque tem a capacidade de conectar as pessoas, de gerar empatia e de fazer com que o viajante leve mensagens importantes para fora dali.

Enquanto viajantes e blogueiros de viagem, temos a responsabilidade de colocar em prática essas conexões, questionar os discursos prontos e compartilhar não apenas mensagens sobre lifestyle, diversão e relaxamento, mas também sobre o contexto dos lugares. Afinal, destinos turísticos não são meros produtos; são lares de pessoas e diversos outros seres vivos, que merecem ser respeitados.

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas e do livro Guia de viagens pra dentro e pra fora: como viajar de forma transformadora e responsável.

*A ABBV é Media Partner da WTM desde a primeira edição da feira, em 2013.

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