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Produção de conteúdo responsável para um turismo responsável

BY: Luisa Ferreira dos Santos / 0 COMMENTS / CATEGORIES: Blogueiros, Comunicação ABBV, Eventos, WTM Latin America

“A comunicação é uma ferramenta muito importante para fazer com que a causa do turismo responsável avance e se torne relevante”. Com essa fala, Cláudia Carmelo abriu o painel “Produção de conteúdo responsável para um turismo responsável” que aconteceu no Responsible Tourism Theatre da WTM - World Travel Market Latin America 2022*, em São Paulo.

Cláudia é co-fundadora e gestora de comunicação da Garupa, ONG que trabalha com marketing de causa no ativismo pelo turismo responsável. Ela moderou um bate-papo muito interessante com o publicitário e jornalista German Carmona, do The Summer Hunter, e o jornalista Daniel Nunes, colunista de turismo consciente da Rádio Nova Brasil FM, sobre a responsabilidade dos comunicadores e das marcas de produzir conteúdo confiável e promover o turismo responsável.

O auditório estava cheio, reforçando a relevância desse tema que também foi abordado pela ABBV em palestra na WTM 2019 proferida por mim e pela então presidente da associação, Natália Becattini, do blog 360 Meridianos, e em uma palestra que preparei exclusivamente para os associados no ABBV Meeting 2020, disponível na área de membros do site.

Mas o que é, afinal, turismo responsável? Gosto muito do conceito que diz que “Turismo responsável é usarmos as viagens para criarmos lugares melhores para as pessoas morarem e visitarem, nessa ordem”. E gostei também da definição que Cláudia Carmelo deu ao tema: para ela, viajar de forma responsável é tratar aquele lugar que você visita como uma casa temporária.

“Quando você vai morar num lugar novo você procura contexto, quer saber quais os problemas desse bairro... Quem está viajando também precisa buscar esse tipo de informação”, defendeu.

Comunicando com responsabilidade para todos os públicos

Como observou Daniel Nunes, hoje em dia todos nós somos comunicadores em potencial, e isso traz oportunidades e desafios. “Ao mesmo tempo em que é muito legal a democratização da informação através das novas tecnologias, a gente acabou dando voz para muita gente que não tem responsabilidade na hora de se comunicar. E quem fala para um grande público tem mais responsabilidade”, observou.

Um dos pontos levantados por Cláudia na conversa foi a importância de “furarmos as bolhas” e não nos limitarmos a “pregar para convertidos” quando abordamos temas como turismo consciente.

Na opinião de Daniel, existe um crescente interesse no tema por um público mais amplo: “Antes, parecia que falar em turismo responsável era coisa de gringo. Na rádio eu falo para pessoas de mais de 400 cidades e muitas delas dão retornos gratificantes, dizendo que nunca tinham parado para pensar sobre o assunto e agora estão refletindo”.

Na visão de German, uma forma de fazer esse assunto alcançar mais gente é compartilhar histórias em que a responsabilidade esteja presente sem precisar deixar isso claro. “Para o The Summer Hunter, ser responsável é parte do nosso dia a dia. É sobre viajar com o interesse de conhecer uma cultura local, vivê-la e sair dali sabendo que ela vai ser preservada. Acredito em trazer esses assuntos de forma natural, não impositiva, expondo formas legais de fazer turismo”, argumentou.

Exercitar a empatia e questionar narrativas prontas

Muitas vezes, a produção de conteúdo responsável passa também por dar espaço para as vozes de outras pessoas. Muitos influenciadores de viagem focam o discurso apenas suas percepções das experiências, mas nós comunicadores podemos ter um papel de intermediários ou pontes entre diferentes grupos sociais e nossa audiência, como lembrou Cláudia.

“Existe um limite no nosso trabalho. Muitas vezes quem tem que falar é quem mora no destino e as comunidades em questão, como a comunidade negra, LGBTQIA+ etc. Trabalhando com Turismo de Base Comunitária a gente vê muito a importância de que cada comunidade fale sobre si, seja dona da sua narrativa. E essa comunicação é muito mais autêntica”, defendeu.

Daniel acrescentou que quando se inclui numa história algum elemento que faça seu público pensar de forma diferente, indo além das informações práticas, o impacto tende a ser muito mais perene. “Ao falar sobre o Pantanal, podemos falar também sobre as problemáticas ambientais que o afetam”, exemplificou.

Outro ponto abordado no painel foi a importância de questionarmos as narrativas que estão sendo contadas sobre os lugares. “Isso toca muito nos governos também, porque é importante que eles revejam narrativas problemáticas ao divulgarem os destinos. Convido todos os produtores de conteúdo a prestarem atenção em qual viés queremos dar para as histórias e lembrarem que é uma responsabilidade conjunta”, reforçou German.

Por fim, Cláudia observou que o turismo pode mudar o mundo porque tem a capacidade de conectar as pessoas, de gerar empatia e de fazer com que o viajante leve mensagens importantes para fora dali.

Enquanto viajantes e blogueiros de viagem, temos a responsabilidade de colocar em prática essas conexões, questionar os discursos prontos e compartilhar não apenas mensagens sobre lifestyle, diversão e relaxamento, mas também sobre o contexto dos lugares. Afinal, destinos turísticos não são meros produtos; são lares de pessoas e diversos outros seres vivos, que merecem ser respeitados.

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas e do livro Guia de viagens pra dentro e pra fora: como viajar de forma transformadora e responsável.

*A ABBV é Media Partner da WTM desde a primeira edição da feira, em 2013.

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Desafios e oportunidades para profissionais de marketing e turismo

BY: Luisa Ferreira dos Santos / 0 COMMENTS / CATEGORIES: Dados do setor, WTM Latin America

Quais são os principais desafios e oportunidades para os destinos e os profissionais de marketing e turismo atualmente? Tricia Neves Levy, Especialista de Mercado da Phocuswright, apresentou na WTM Latin America algumas das tendências que devem influenciar o setor este ano. Confira:

Startups versus gigantes

“A participação global de reservas de hospedagens está na mão de gigantes como o Booking, mas o crescimento dessas empresas está desacelerando, porque elas estão sobrecarregadas pelo seu tamanho - e, se o jogo for pelo volume, a chegada do Google no mercado de reservas muda o cenário”, afirmou Tricia. Segundo ela, isso abre espaço para o crescimento de startups: “É importante ficarmos atentos a esse mercado, porque o próximo Airbnb está por aí”.

Mídias online

“Hoje em dia, seu cliente está online em todos os estágios da viagem. Então o dinheiro para publicidade também deve estar”, afirmou Tricia. As marcas que tradicionalmente apostam em anúncios voltados para o momento de compra, encontram oportunidade de participar das etapas de planejamento e inspiração através, por exemplo, da cocriação de conteúdo com influenciadores digitais.

A executiva observou que existe hoje uma abundância de novos produtos e opções de segmentações, e cabe às empresas da área testar essas novas tecnologias o quanto antes. “Mídias visualmente mais atraentes, como redes sociais e vídeos, são especialmente relevantes e eficazes para o engajamento com a marca”.

WTM Latin America 2019 - Palestra Phocuswright Tendencias do Turismo
Tricia Levy, da Phocuswright, apresentou tendências do turismo

Inspiração da China

Outro insight da empresa vem de longe: na China, afirmou Tricia, o desktop praticamente morreu. “Quase todo o processo de compra é feito pelo celular. As pessoas usam apps super amigáveis que tomam conta de toda a jornada de compra dos viajantes, sendo ricos em conteúdo e inspiração”, explicou.

Assistentes de voz

O uso de assistentes de voz, como o Alexa e similares, também merece a atenção dos players de turismo. “Eles têm sido cada vez mais usados para tirar dúvidas e pedir recomendações, embora ainda não tanto para fechar negócios. No futuro, isso também deve aumentar”, disse a palestrante.

Por isso, as empresas do segmento devem pensar sobre como usar chats e serviços de voz para expandir sua presença online e em todos os pontos de contato com o cliente.

Busca por experiências

“Quando o AirBnb implementou as ‘experiências’ na sua plataforma, começou a provocar os players de atrações. Colocou moradores dos destinos em contato direto com os viajantes, sem intermediários além da plataforma, e vimos que muitos viajantes estão interessados em experiências diferentes”, disse Tricia.

Por isso, ela recomenda que receptivos tradicionais busquem formas de oferecer experiências diferentes, como as que permitem interação com moradores. Ao mesmo tempo, devem pensar em formas de inovar nos produtos turísticos clássicos. “Isso não significa a morte da Torre Eiffel, porque vivemos em um mundo em que não precisamos escolher entre uma coisa e outra. Os viajantes querem os dois”, acrescentou.

Mais que apenas dormir

A busca por experiências além do convencional afeta também as hospedagens. O que os viajantes buscam numa estadia está mudando, incluindo serviços que vão além do básico. Mais uma vez, a especialista mencionou o AirBnb como exemplo, já que a plataforma oferece aos usuários a possibilidade de se sentir como um morador do lugar, fazendo a hotelaria repensar a forma em que oferece seus serviços.

A tecnologia também é, segundo ela, uma fator importante nesse segmento. “Nos Estados Unidos, 65% dos hóspedes atribuem grande importância aos hotéis que investem em tecnologia para melhorar sua experiência, principalmente para reservas, check-in, check-out e pedidos de room service”, disse, observando a importância do investimento em novas tecnologias.

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas.
Foto em destaque: Sebastian Hietsch

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Como empresas podem fazer parte do planejamento de viagens

BY: Luisa Ferreira dos Santos / 0 COMMENTS / CATEGORIES: Dados do setor, WTM Latin America

“O Brasil tem mais penetração de internet que de saneamento básico”, afirmou Aline Prado, líder de Insights para a indústria de turismo no Google, no início da sua palestra na última edição da WTM Latin America.

A afirmação dá a dimensão de como a tecnologia está presente em nossas vidas. No segmento de turismo, é claro que a situação não é diferente. Segundo o Google, em 2017 mais de 50% das reservas de hospedagem foram feitas online e 72% das passagens aéreas foram vendidas dessa forma.

O objetivo da palestra era mostrar como as empresas do setor podem continuar fazendo parte do planejamento de viagens nesse cenário em que os viajantes são cada vez mais independentes.

O papel dos Creators

Apesar do forte uso da internet para comprar produtos e serviços para viagens, o uso é ainda maior na fase de planejamento: as buscas por informação têm crescido 5 vezes mais que as buscas com intenção de compra - e essas demandas são atendidas por criadores de conteúdo, como blogueiros e youtubers. “Já víamos essa tendência no ano passado, mas este ano enxergamos uma acentuação”, observou Aline.

Atualmente, a empresa estima que 38% dos viajantes começam seu planejamento de viagens pesquisando no YouTube e 53% via busca do Google.  Em 2018, as visualizações de vídeo sobre viagem no Youtube cresceram 354%. Estar presente neste tipo de conteúdo, através de produção própria ou cocriação com influenciadores digitais, pode fazer a marca entrar no radar dos consumidores logo no início de suas decisões de compra.

WTM Latin America 2019 - Palestra Inspire Theatre Google Viagem na Era da Assistencia
"Creators às vezes se tornam referência em um tema", diz Aline Prado

Enquanto a multiplicidade de vozes continua presente, cada vez mais usuários direcionam suas pesquisas para conteúdos produzidos por “creators” específicos, que conquistam a confiança do público e se fortalecem como grandes players do mercado.

“Em 2008, as pessoas pesquisavam sobre viagens usando termos ligados a marcas em que confiam, como CVC e Decolar. Em 2012, vimos um rompimento dessa relação: as pessoas reduziram as buscas pelas marcas e começaram, junto com as pesquisas genéricas, a buscar pelos termos associados a nomes de criadores de conteúdo”, disse a palestrante.

Comportamento de compra

Aline Prado trouxe outros dados relevantes sobre o comportamento dos usuários que procuram informações sobre viagens na internet. Para muitos, as pesquisas começam ajudando a decidir o destino: 57% iniciam o planejamento sem saber para onde vão viajar.

A busca por destinos específicos tem caído, enquanto cada vez mais gente tem procurado por elementos ligados à experiência, como “pé na areia”, “com piscina” ou “para curtir com a família”.

E os dados também apontam insights interessantes sobre temporalidade. As buscas com intenção de compra, segundo o Google, se concentram entre o final de domingo e terça-feira. As buscas por conteúdo, por outro lado, são mais frequentes durante o final de semana.

“Começamos a entender que esse é cada vez mais um processo longo e perene”, acrescentou Aline. 56% dos viajantes começa a fazer reservas para uma viagem com mais de três meses de antecedência e 35% o faz de um mês a uma semana antes da partida. “A maior parte das reservas acontece 16 dias antes da viagem, mas o planejamento é muito anterior a isso”, disse.

WTM Latin America 2019 - Palestra Google Viagem na Era da Assistencia
Aline Prado, especialista do Google, no palco da WTM

O que isso significa para as marcas?

Uma das implicações desse novo padrão de comportamento para as empresas do segmento de turismo é que, teoricamente, os sites delas só aparecem no final da jornada de compra dos consumidores.

“O planejamento tradicional começa com a busca de informações e tomada de decisões. Depois vem a compra das passagens e então a reserva de hospedagens. Mas alguns players têm conseguido chegar antes, ajudando a determinar para onde e como vai ser a viagem desse usuário”, disse Aline.

Quase todas as principais empresas de turismo do Brasil tiveram queda em volume de buscas em janeiro deste ano, com exceção de Booking, Airbnb e Kayak. De acordo com a palestrante, essas empresas têm em comum o fato de não abordarem os usuários perguntando necessariamente para onde eles vão.

Os três sites, observa ela, oferecem a possibilidade de encontrar destinos de acordo com a experiência que a pessoa está buscando, como “viagem romântica” ou “viagem para famílias”. O Kayak também investiu em parceria com criadores de conteúdo, como a série de vídeos no canal Viaje na Viagem, que ajuda a responder algumas das grandes questões dos viajantes brasileiros na fase de planejamento das férias. Dessa forma, as marcas conseguem entrar na fase inicial da jornada de compra do viajante.

“Cada vez mais, quem vende viagens precisa oferecer conteúdo”, concluiu a executiva do Google.  Afinal, quase todas as viagens começam diante de uma tela, e quem faz parte desse início sai na frente da concorrência.

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas.
Foto em destaque: Sebastian Hietsch

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Blogueiros e turismo responsável: que tipo de influência queremos exercer?

BY: Luisa Ferreira dos Santos / 0 COMMENTS / CATEGORIES: Criação de conteúdo, Mercado

Apesar da controvérsia em torno do termo “influencer”, não há como negar que o trabalho de produtores de conteúdo costuma influenciar comportamentos e decisões. Ao divulgar informações sobre viagens, muitos de nós falamos que nosso objetivo é “inspirar” quem consome esse conteúdo. Mas inspirar a quê?

A aprender a tirar fotos bonitas com looks que combinem com o cenário? A colecionar carimbos no passaporte? A competir pelo melhor estilo de vida? A lotar os mesmos destinos turísticos, provocando o chamado “overtourism”? Ou a crescer como pessoas, aprender sobre o mundo e provocar impactos realmente positivos além dos nossos umbigos?

Grande poder, grande responsabilidade

Uma pesquisa do Booking.com mostrou que para 42% dos brasileiros, “um dos fatores considerados ao escolher uma acomodação é se hospedar em propriedades atraentes onde eles possam tirar fotos para utilizar nas redes sociais”.

Imagina que incrível se essa mesma quantidade de gente considerasse importante saber se uma hospedagem tem práticas ambientalmente e socialmente responsáveis, por exemplo? Imagina se todos nós usássemos nosso “poder de influência” para estimular comportamentos desse tipo?

Aquele conselho bem batido do tio do Homem-Aranha cai bem nesse cenário: com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Mesmo quem não tem uma audiência massiva provoca algum tipo de influência em seus leitores ou seguidores. Não é possível, então, ignorar o peso das escolhas que fazemos ao viajar e divulgar nossas viagens.

Se acreditamos que “vale tudo pelo conteúdo” e tiramos fotos em lugares proibidos ou perigosos, participamos de atrações que prejudicam animais ou divulgamos eventos que promovem destruição ambiental, que tipo de valores estamos promovendo? Que comportamentos vamos incentivar?

O mundo não é nosso parque de diversões

Muita gente vê viagens como merecidos momentos de descanso e descontração, e não há nada de mau nisso por si só. O problema é quando isso nos faz esquecer que os lugares que visitamos não estão lá exclusivamente para servir a nosso divertimento ou contemplação. Pessoas moram e trabalham neles, e existe todo um ecossistema ali que sente o impacto da nossa presença.

Nesse sentido, o mínimo que podemos fazer é respeitar os destinos. Isso envolve, por exemplo, entender como se vestir e como agir para não desrespeitar a cultura local, especialmente quando ela é muito diferente da nossa. Mas vai além disso.

É preciso, em diversas ocasiões, questionar continuamente o impacto das nossas ações. E, sempre que possível, transmitir esse questionamento ao público que acompanha nossas viagens.

Será que essa pessoa se incomoda em ser fotografada? Para onde irá o lixo resultante daquelas lindas lanternas que enfeitam o céu? O que será que faz com que esse animal selvagem se comporte de forma tão amigável junto a humanos? Será que esse destino tem capacidade para suportar um fluxo tão pesado de visitantes ao mesmo tempo?

Desde o impacto no efeito estufa a profundos danos ambientais em lugares como a Maya Bay, na Tailândia, passando por aumentos estratosféricos nos preços de aluguéis que forçam moradores a sair dos bairros onde cresceram, não há dúvidas de que em muitos casos o turismo age como vilão.

Como blogueiros de viagens, acredito que temos o papel de refletir e debater sobre esses cenários de forma realista, em vez de pintar o mundo e as viagens de cor de rosa, mostrando só o lado bom.

Sempre é tempo de aprender

É claro que os maiores danos causados pela indústria do turismo estão muito além do que conseguimos influenciar com um simples post no Instagram. O problema envolve má gestão de políticas públicas, ganância e descaso a nível mundial.

Mas será que isso nos dá o direito de lavar as mãos, ou é mais um motivo para mantermos nosso senso crítico ainda mais alerta e apoiarmos iniciativas responsáveis?

Já fiz muita coisa errada como viajante e como blogueira de viagens sem ter consciência disso. A gente não nasce sabendo de tudo, nem sempre os limites são claros e às vezes é difícil entender as consequências de ações (nossas ou de grandes empresas) que estão normalizadas na sociedade.

Mas só assim vamos melhorando como pessoas, viajantes e “influenciadores”: um passinho de cada vez, aprendendo uns com os outros.

O turismo pode ser uma ferramenta incrível de transformação pessoal, distribuição de renda e trocas culturais. Mas para que consigamos ampliar esse papel positivo e reduzir seu lado nocivo, precisamos fazer escolhas cada vez mais conscientes e nos perguntar a cada post: que influência queremos exercer?

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas.

Leia também: Turismo responsável na América do Sul

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Dicas de organização e produtividade para blogueiros de viagens

BY: Luisa Ferreira dos Santos / 2 COMMENTS / CATEGORIES: Criação de conteúdo

A cada novo ano, é a mesma coisa: a gente se esforça para cumprir as resoluções formuladas na virada de ciclo, enquanto a vida teima em nos atropelar. Quase nunca é fácil concretizar tudo que planejamos, mas tudo tende a ficar menos complicado quando nos organizamos.

Aproveitei esse início de ano para compilar algumas dicas de organização para blogueiros de viagem, com base no que pratico no meu dia a dia. São estratégias e recursos simples, mas que acabam fazendo a diferença no rendimento do trabalho.

Vale reforçar, no entanto, que quando falamos em organização e produtividade não existe uma fórmula que sirva para todos. O ideal é ir testando abordagens diferentes até encontrar (ou criar) o que melhor se adapte à sua rotina.

Pesquisa e planejamento de pautas

Todo bom blogueiro consulta fontes de informação variadas quando começa a planejar uma viagem, né? Mesmo quando tenho a intenção de viajar mais espontaneamente, sempre levo o conteúdo do blog em consideração. E isso significa, entre outras coisas, sondar pautas que podem surgir daquela visita.

Quando estou na fase inicial de pesquisa sobre um destino, crio uma pasta para ele nos favoritos do navegador e vou salvando lá tudo que acho interessante. Podem ser matérias de jornal, posts de blogs brasileiros e gringos, fotos bonitas, livros relacionados ao país, hotéis ou albergues onde penso em ficar... Também tenho feito o mesmo no Instagram, com o recurso de salvar posts em coleções.

Na etapa seguinte, uso esses recursos como ponto de partida para montar o roteiro da viagem, tanto na perspectiva de viajante quanto no sentido editorial. Costumo criar um documento para o itinerário geral, outro com as informações sobre o que quero conhecer em cada cidade e mais um com ideias de pautas mais genéricas que penso em pesquisar durante a viagem.

Nessa fase, acho válido anotar todas as ideias de pautas que vierem à cabeça, mas sem se apegar muito. Durante o percurso, muitos desses temas certamente vão “cair”, enquanto outros inesperados vão dar as caras.

Seja como for, é importante anotar o máximo que puder sobre cada assunto. Além de descrever a ideia, acrescente links, imagens e outras referências relacionadas àquele tema. Assim, você não só evita o risco de esquecer o que queria abordar no post como já garante um bom ponto de partida para o texto.

Salvar os links originais da pesquisa é importante para indicar as fontes do seu post. Ao publicar o seu artigo, dê crédito para os outros blogs e sites que foram úteis para a sua pesquisa – assim como você gostaria de ter seu trabalho reconhecido e citado. Além de ser uma prática positiva e ética, oferece informações valiosas para o seu leitor.

Para organizar todo esse material, o formato pode variar muito. Conheço gente que faz planilhas no Excel, enquanto outros usam os bons e velhos caderninhos de papel.

Eu acho mais prático usar o Evernote, porque lá posso escrever notas com uma formatação bonitinha, editar quantas vezes precisar, colocar etiquetas organizadoras e acessar tudo facilmente tanto pelo computador quanto pelo celular. Já fui de anotar coisas no Word, num diário de viagem e no celular ao mesmo tempo, mas assim acabava perdendo ideias e informações valiosas.

Depois da viagem, quando tenho uma ideia mais precisa do que vai virar post de fato, vou jogando as pautas num calendário editorial. Nele, tento equilibrar textos com diferentes temas, para diversificar o conteúdo do blog. Mas preciso confessar: às vezes ignoro isso e simplesmente escrevo o que estou a fim de escrever.

Equipamentos de foto e vídeo

Já aconteceu comigo, com amigos e provavelmente com você também: você chega no destino com tudo prontinho para produzir um conteúdo massa, até sentir falta de algum equipamento importante.

Desde levar a câmera sem o cartão de memória a deixa-la descarregar sem perceber ou esquecer o bastão da GoPro em casa, a lista de vacilos pode ser longa. Todo mundo está sujeito a erros, mas a organização ajuda a evita-los.

Uma sugestão é fazer um check-list de equipamentos que você precisa conferir ao fazer as malas, ou antes de sair do hotel a cada dia de viagem. Anote tudo que precisa levar, o que deve checar em cada gadget (se está carregado e com a lente certa, por exemplo) e itens sobressalentes a levar, como cartões de memória e bateria.

Caso viaje junto com outras pessoas que fazem o blog com você, uma sugestão é fazer uma divisão de tarefas. Tipo “você fica responsável pelo drone e eu pelas câmeras”. Assim, cada um vai se acostumando com sua rotina e se reduz o risco de um ficar pensando que o outro fez o que devia ser feito.

Organização e backup de arquivos

Além dos objetos físicos, também é fácil se desorganizar com o tanto de itens digitais que vamos acumulando, né? Por isso, vale a pena tirar algumas horas (ou um dia inteiro, dependendo do nível da sua bagunça virtual) para fazer uma faxina nos arquivos.

Acho válido identificar os tipos de arquivo mais frequentes, fazer um esquema simples e separa-los em pastas de acordo com uma lógica predeterminada, em vez de sair abrindo uma pasta nova para cada coisa.

Algumas sugestões de categorias: documentos e finanças, clipping, relatórios de campanhas e estatísticas, peças gráficas, fotos, materiais para posts, mídia kits, eventos, parcerias e anúncios etc.

Lembrando que tudo isso não vale de nada se você não fizer backup. Afinal, um dos maiores pesadelos para qualquer produtor de conteúdo é perder todas as suas fotos e anotações, né? Mas as chances disso acontecer são mínimas caso você salve tudo em mais de um ambiente além do seu computador.

A “organizadora profissional” Gabriela Brasil sugere ordenar sua vida virtual assim: arquivos de uso frequente ficam no computador e na nuvem, arquivos usados de vez em quando ficam só na nuvem e arquivos importantes que precisam ser guardados indefinidamente vão para a nuvem e backup físico.

Para quem trabalha com fotos em RAW e/ou arquivos de vídeo, é bom fazer esse filtro o quanto antes, separando os itens que vai usar a curto prazo, os que já usou etc. Assim, você evita acumular “peso digital” desnecessário e sobrecarregar seu computador ou servidor.

Processos para facilitar o trabalho

Mesmo que o blog não seja seu trabalho principal, certamente você acumula muitas tarefas de diferentes naturezas relacionadas a ele. Responder e-mails e comentários, atualizar redes sociais, avaliar desempenho de afiliados, acompanhar estatísticas, editar posts antigos, fazer balanço financeiro...

Para não se perder no meio disso tudo, o ideal é criar processos para as tarefas recorrentes, determinando uma periodicidade específica.

Por exemplo: checar e-mails todo dia pela manhã, respondendo o que for mais urgente e marcando o resto como pendente para o fim do dia; avaliar o Analytics e os números de redes sociais toda sexta-feira ou todo fim de mês; escrever newsletter todo domingo; e assim por diante.

No caso de projetos pontuais, vale aquela dica básica de produtividade: dividir as tarefas em pedaços menores e determinar prazos para cada uma. Assim, também fica mais fácil priorizar o que tem mais potencial de trazer retorno, seja financeiro ou de outro tipo.

Recomendo fazer um planejamento mensal, separando as tarefas que precisam sair do papel de todo jeito e aquelas para fazer “se der tempo”. Gosto de colar um papel com essa to-do list na parede do escritório, para olhar para ela todo dia.

Assim como os outros itens listados aqui, a escolha de plataforma para esse planejamento depende de cada um. Tem quem não abra mão de planners de papel, tem os fãs de murais com post-its e tem quem curta usar aplicativos e softwares específicos para gerenciamento de tarefas, como Trello e Asana, especialmente úteis para quem faz o blog junto com outras pessoas.

E você, tem outras dicas de organização para blogueiros de viagens? Compartilha com a gente!

Luísa Ferreira é jornalista e autora do blog de viagens Janelas Abertas.

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