Uma das principais entidades de turismo no Brasil, a ABAV (Associação Brasileira de Agências de Viagem) representa mais de 2 mil empresas em todo o país, entre agências de viagens, operadoras de turismo e consolidadoras, que juntas respondem por cerca de 85% de toda a movimentação de vendas do setor.
Com 65 anos de história, a ABAV acompanhou muitos momentos de mudança no mercado, e agora vive mais uma nova fase. A evidência foi a programação da ABAV Expo este ano, que incorporou diversos temas relacionados ao universo digital, debatendo a incorporação de tecnologias, estratégias de marketing e também o relacionamento entre as empresas e os influenciadores digitais.
Entrevistamos Magda Nassar, presidente da ABAV Nacional, sobre o cenário atual do turismo no Brasil. Investidora, empreendedora e agente de viagens desde 1987, Magda é a primeira mulher na liderança da instituição, assim como foi a primeira a presidir a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), entre 2015 e 2019.
1) No painel de abertura da ABAV Expo 2018, foi dito que o turismo é um ramo com capacidade de se recuperar rápido em cenários de crise. Como está o otimismo do setor este ano?
Magda Nassar - Estamos muito confiantes no fortalecimento do setor, inclusive devido a vitórias recentes como a abertura de 100% de capital estrangeiro em companhias aéreas nacionais, isenção de vistos para turistas dos EUA, Canadá, Japão e Austrália e o veto à isenção na cobrança de bagagem. São fatores que devem estimular o setor a curto e longo prazo, com mais atrativos para turistas estrangeiros visitarem o Brasil e mais competitividade no setor aéreo, o que deve baratear o valor das passagens aéreas e expandir nossa malha aérea.
Além disso, vale destacar que, mesmo em um cenário de crise, o brasileiro segue com planos de viajar sempre que tem a oportunidade, seja em um feriado prolongado ou nas férias. O que acontece é uma mudança no comportamento do consumidor, que passa a buscar alternativas para viajar. Se o dólar ou euro estão mais caros, vemos um movimento de procura por viagens em destinos onde o câmbio é mais favorável ou então maior busca por destinos nacionais, por exemplo. As agências apoiam esse processo de decisão, pela capacidade que têm de fazer os ajustes necessários para que qualquer viagem caiba no bolso do seu cliente.
O mercado também contribui favoravelmente, pois nos momentos de maior instabilidade responde com promoções e vantagens, como opções de parcelamento maiores e dólar congelado. O turismo é um setor de suma importância para a economia nacional, representando 8,1% do PIB brasileiro e 6,9 milhões de empregos no país, segundo estudo do World Travel and Tourism Council (WTTC), divulgado em março de 2019.
2) A programação da ABAV Expo 2019 teve uma Arena Digital, com uma proposta de trazer abordar temas como transformação digital e marketing multicanal. Que inovações já vêm sendo aplicadas no mercado de turismo? Como o setor de serviços está se transformando para a era digital orientada à experiência?
Magda Nassar - O setor de turismo foi um dos que mais se transformaram na era digital, e é natural que o agente de viagens tenha que se adaptar ao novo cenário. É preciso apostar em novos canais de comunicação com o consumidor, investir em sites e portais que estimulem o engajamento e conversão, além de estudar a fundo dados dos usuários para identificar novos padrões de comportamento e desenvolver estratégias de vendas orientadas para as novas tendências de consumo.
Hoje em dia já vemos uma quebra de barreira das agências do chamado modelo "tradicional" se fazendo presentes também no meio digital, lançando mão de estratégias de marketing voltadas para o online e explorando mais as redes sociais para captar e fidelizar clientes. Nós, na ABAV, temos incentivado muito essa prática junto aos nossos associados, o que fortalecemos também por meio da oferta de cursos do ICCABAV – que este ano, por sinal, transformou a sua plataforma em 100% digital – e apresentações da Vila do Saber, que é a área dedicada à difusão de conhecimento da ABAV Expo.
A tecnologia teve grande destaque na ABAV Expo 2019, com ativações como a área de Inovação, em parceria com a Travelport, em que desenvolvedores apresentaram as tendências na área, e empresas consolidadas e startups trouxeram inovações desenvolvidas especialmente para o mercado de turismo, além de dezenas de outros expositores focados nas áreas da tecnologia da informação e gestão de sistemas.
3) A pesquisa realizada pela Panrotas este ano apontou que "o incômodo e o sentimento de competição que os profissionais de turismo tinham em relação aos influenciadores já foi dominado. Vemos as próprias agências e operadoras se utilizando desses canais para promover seus serviços". Como a ABAV vê este novo momento na relação entre agentes e influenciadores digitais?
Magda Nassar - Entendemos que, entre os vários fatores que afetam a decisão final do consumidor (promoções, condições exclusivas de pagamento etc), os influenciadores podem ser grandes aliados das agências, pois democratizam o acesso à informação e fomentam a curiosidade e o interesse de potenciais viajantes, além de criar o desejo por um destino turístico, um hotel ou uma experiência. Há, inclusive, agências de viagens que já atuam em parceria com esses profissionais para promover seus pacotes e serviços, com ótima taxa de conversão.
Na feira deste ano, tivemos algumas novidades significativas nesse sentido, como um lounge para influenciadores dentro do "Espaço Conectividade", que marcou a grande ação promovida este ano envolvendo 100 influenciadores digitais de lifestyle e viagens na divulgação do evento.
4) A inclusão e a diversidade são temas em alta na sociedade hoje, e que estiveram em pauta tanto na ABAV Expo 2018 quanto na edição de 2019. O mercado tem despertado para segmentos como o público negro, o público LGBT+, pessoas com deficiência e viajantes da terceira idade (que atualmente representam expressivos 22% entre os clientes das agências de turismo). Para além das oportunidades de produtos de nicho, qual o impacto social de se debater as questões específicas de inclusão?
Magda Nassar - O turismo é uma atividade democrática, com grande impacto cultural, por isso é muito importante que as agências estejam atentas à importância de atender aos mais variados nichos de consumidor e propiciar experiências memoráveis para seus clientes.
Mais uma vez, é importante que o agente se capacite e atualize seus conhecimentos para estar apto a atender demandas específicas de um viajante com deficiência, o público LGBT e até mesmo compreender algo relativamente novo, como a gordofobia e a transfobia, dois dos temas que trouxemos para o debate este ano. Por meio do turismo, é possível ter experiências de vida transformadoras e queremos que ele esteja ao alcance do maior número possível de pessoas.
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Mesmo em um cenário de crise no Brasil, viagens continuam sendo a principal atividade para 77% dos brasileiros de classe média durante as férias. É o que aponta o estudo realizado pela ID Rock com a Opinion Box divulgado em junho.
Os maiores desejos dos brasileiros durante as férias são descansar (42%) e aproveitar o tempo em programas com a família (30%). O perfil desbravador de viajante que quer conhecer lugares e culturas diferentes aparece em terceiro lugar (20%).
A maior parte dos participantes da pesquisa sente que só não viaja mais por falta de dinheiro. Mas, para equilibrar o orçamento das férias, eles optam por opções de lazer acessíveis, como a procura por destinos de viagem dentro do estado onde moram (50%).
O gasto médio nas últimas férias ficou entre R$ 1.000 e R$ 2.500 para a maioria dos entrevistados. O transporte é apontado como o maior gasto da viagem, representando entre 20 a 39% do orçamento, enquanto hospedagem e alimentação aparecem em segundo lugar nas despesas, variando entre 20 a 29% do orçamento.
O pagamento à vista e o planejamento com antecedência também são parte do esforço para sair de férias sem dívidas – 23% dos entrevistados planeja a viagem com antecedência de 3 a 5 meses, e outros 26% com antecedência de 6 a 12 meses.
Apesar do crescimento da demanda por plataformas de aluguel por temporada (12%), os hotéis (28%) e pousadas (26%) ainda são as hospedagens preferidas.
Na hora de escolher o destino da viagem de férias, os sites de viagem são a segunda principal fonte de informações, atrás apenas das indicações de parentes e amigos. As avaliações feitas em redes sociais por outros viajantes são o terceiro fator de maior influência na escolha.
A pesquisa foi realizada pela ID Rock com a Opinion Box em abril de 2018, através de formulário online com 2.175 pessoas de todo o Brasil. As faixas de renda predominantes entre os participantes eram de 2 a 5 salários mínimos (70%) e 5 a 10 salários mínimos (13%).
Os dados completos da pesquisa podem ser adquiridos pelo site Pesquisas.com.br
Leia maisPor Débora Godoy Segnini | Enviada especial
No primeiro dia da Feira das América cheguei ao evento no horário da abertura oficial quando as autoridades estavam falando de suas perspectivas para o turismo no Brasil e fiquei bem curiosa com tudo o que estava sendo dito ali. Muita informação boa no que diz respeito ao turismo interno — brasileiro viajando no Brasil e a busca pelo aumento do turista estrangeiro no país.
Durante o período em que a feira esteve em São Paulo (04 a 08 de setembro de 2013) foram firmadas várias parcerias em benefício de quem trabalha com o turismo, visando a melhoria do setor.
Aos visitantes da feira foram oferecidas várias palestras. O espaço chamado Vila do Saber ficava dentro do próprio pavilhão de exposições, onde os temas estavam envolvidos com o objeto principal da feira — o turismo. Foram discutidos vários assuntos importantes como turismo sustentável, tecnologia, turismo solidário, envolvimento das mídias com os destinos, entre outros.
Confesso que não participei ativamente das palestras, pois fiquei envolvida com a visita aos stands dos destinos que estavam fazendo parte da feira. Estive presente em algumas coletivas de imprensa, organizadas por países internacionais e hotéis do território nacional, onde foram apresentadas melhorias e novas facilidades ao turista.
Por exemplo, na coletiva do Equador, o governo equatoriano tem visto o turista brasileiro como uma potência em visitação e, assim, está realizando várias ações para mostrar que o país tem muito a oferecer. Para tanto, firmou parcerias e uma delas fez com que a empresa aérea local, a TAME, aumentasse a oferta de vôos para Quito, de 3 para 5 vezes por semana.
Além disso, a TAME garantiu que vai oferecer passagens aéreas a preços imbatíveis. Falaram sobre os passeios na cidade de Quito e sobre o trem que viaja pela costa, que proporciona ao turista — além da vista de lindas paisagens — conhecer vilarejos que fazem parte da história do Equador.
Outros destinos menos visitados também estão vendo o aumento do número de viajantes brasileiros e apresentaram novos produtos, com o objetivo de aumentar a visitação nessas cidades.
Em contrapartida, visitei alguns stands que representavam estados brasileiros e conversei com os secretários de turismo, responsáveis por esses destinos e tive a certeza de que estamos correndo atrás desse “turismo” — muito embora tenha aumentado o número de visitantes nacionais nesses locais com acordos, numa tentativa de baixar as tarifas aéreas e oferecer melhores ofertas hoteleiras.
O Brasil, como outros destinos internacionais, tem realizado ações de divulgação, trazendo jornalistas e mídia estrangeira para visitar e conhecer alguns destinos nacionais com a intenção de aumentar o turismo local e mostrar o que o Brasil tem de bonito e de melhor como, por exemplo, cidades planas, como São Luis do Maranhão, onde o turismo da melhor idade aumentou muito no último ano.
Eu fiquei muito contente com isso. Muitos brasileiros (nisso fico incluída) não conhecem o nosso País como deveriam. Eu fiquei maravilhada com alguns materiais que recebi, apresentações/shows típicos e folclóricos realizados na feira e com o carinho que fui recebida em algum desses stands brasileiros que visitei. Recebi explicações sobre passeios e lugares que ainda não visitei, experimentei vários quitutes típicos, muitos sabores diferentes.
Participei, também, de um encontro de blogueiros com o Presidente da São Paulo Turismo, a SPTuris, e vi o empenho dessa secretaria com as questões relativas ao turismo, na realização de várias ações de melhorias que vão desde placas indicativas e bilíngües de atrações turísticas até a participação da cidade no futuro como sede de eventos internacionais importantes. Tudo isso deixará um legado para a cidade com a construção de novos espaços de exposições, que levarão, também, à melhoria do transporte público.
Deixei a feira com a visão de que, no futuro próximo, o turismo interno terá aumentado e melhorado muito, pois estamos no caminho certo.
Foto: ABBV - Associação Brasileira de Blogs de Viagem
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Debora Godoy Segnini é advogada e blogueira. Escreve o blog Gosto e Pronto com dicas de viagem, vinhos e gastronomia.
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